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Relatórios de Viagem

As viagens de estudo são uma componente fundamental na investigação em Patrimónios de Influência Portuguesa, um projeto baseado na mobilidade de docentes e alunos.

De acordo com esta tendência, o projeto Patrimónios de Influência Portuguesa iniciou em 2013 um processo de internacionalização, associando-se em regime de co-tutela na Europa (Universidade do Algarve; Universidade de Bolonha; Universidade Paris-Ouest); na América do Sul (Universidade Federal Fluminense — Brasil) e em África (Universidade Eduardo Mondlane — Maputo; M_EIA de Cabo Verde; Universidade Agostinho Neto — Angola).

De momento, os estudantes do DPIP desenvolvem trabalho de investigação em Angola, Brasil, Cabo Verde, Marrocos, Moçambique, Japão, Índia e Timor, e junto das comunidades falantes de português nos territórios tradicionalmente designados de emigração. Grande parte do/as doutorando/as tiveram portanto necessidade, e oportunidade, de realizar trabalho de campo nos locais de interesse das suas pesquisas.

Pela relevância que estas viagens representam, publicamos aqui a versão resumida de uma seleção dos relatórios das pesquisas realizadas no trabalho de campo.

 

Relatório de Viagem | Brasil – por Conceição Cano

abril-setembro de 2013

Título da tese: O Bumba Meu Boi como Zona de Contato: Trajetórias e Ressignificação do Património Cultural

Orientação: João Leal (UNL) (orientador). Sandra Xavier (CES-FCTUC) (co-orientadora)

Local: São Luís — Maranhão, Brasil

Financiamento: recursos económicos próprios

Objetivos

O trabalho de campo decorreu no Maranhão (Brasil), sobretudo em São Luís, de forma continuada entre os meses de abril e setembro de 2013 com o objetivo de acompanhar o ciclo completo da festividade do bumba meu boi. Assim, procurou-se compreender as relações estabelecidas entre a manifestação do bumba boi e o poder público, os intelectuais, a indústria cultural, o turismo e demais sujeitos envolvidos com esta festividade de modo a verificar as mediações de poder existentes. Para tal foram utilizadas as ferramentas metodológicas próprias da antropologia cultural, como a etnografia, a observação participante e por meio de um trabalho de campo prolongado que possibilitou a convivência tanto com os brincantes (integrantes dos grupos), quanto com alguns gestores culturais ligados ao poder público local.

Impacto no progresso da tese

A partir de uma presença ativa e constante foi possível conhecer o universo do bumba meu boi em profundidade, integrar-me com os grupos, acompanhar suas rotinas de trabalho, ensaios e apresentações, e assim compreender a ressignificação desta expressão cultural em diferentes contextos. Ainda, para além dos inquéritos e conversas informais com brincantes, donos de diferentes grupos de bumba meu boi, intelectuais e demais estudiosos do assunto, ao longo do trabalho de campo foi possível entrevistar pessoas ligadas ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ao Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho (CCPDVF) e à Secretaria de Cultura do Maranhão (SECMA).

O trabalho de campo permitiu prover insumos à análise de dados qualitativos e quantitativos para a produção da escrita da tese, e da mesma forma contribuiu para uma melhor reflexão sobre os processos inerentes a esta manifestação cultural, nomeadamente as formas de apropriação da cultura popular pelas elites políticas e intelectuais, assim como o processo de patrimonialização. Neste sentido, por meio dos pressupostos teóricos avançados de Mary Louise Pratt (1999), procurei analisar o bumba meu boi como uma “zona de contato”, um espaço de trocas e de negociação das práticas culturais.

 

Relatório de Viagem | Brasil – por Martina Mancini

dezembro de 2014

Título da tese: Memórias do escravo colonial: património de silêncios no Atlântico Sul .

Orientação: Margarida Calafate Ribeiro (CES-III/UC) (orientadora). Roberto Vecchi (Universidade de Bologna) (co-orientador).

Local: Rio de Janeiro; Minas Gerais — Brasil

Financiamento: FCT/ CAPES

Objetivos

O projeto Memórias do escravo colonial: património de silêncios no Atlântico Sul tem como principal objetivo abordar a herança cultural e a memória da escravatura em comunidades afro-descendentes contemporâneas no Brasil. Procura-se contribuir para uma compreensão aprofundada dos relacionamentos entre memórias da escravidão, vivas ou silenciadas, e processos identitários contemporâneos das referidas comunidades. No mês de Julho de 2014 integrei, como Investigadora Júnior, o projeto investigação “Trânsitos Atlânticos: Mulheres e Experiência Pós-colonial” (FCT/CAPES), coordenado pela investigadora Margarida Calafate Ribeiro. Neste sentido realizei, em dezembro de 2014, uma estadia na Universidade Federal Fluminense (Niterói, Brasil).

Impacto no progresso da tese

A criação de uma rede institucional de apoio ao meu projeto de investigação, assim como os contatos estabelecidos nas comunidades e regiões citadas, foram um significativo resultado desta missão de estudo.

Foram levantadas pesquisas na Biblioteca da Universidade Federal Fluminense; na Biblioteca Nacional de Rio de Janeiro; e no Complexo do Valongo (Cais do Valongo, Centro Cultural José Bonifácio, Pedra do Sal e Cemitério do Pretos Novos). Importantes foram os encontros com o Professor Silvio Renato Jorge, as Professoras Hebe Mattos e Martha Abreu, com os investigadores do Grupo de estudo e pesquisa Cultura Negra no Atlântico (CULTNA), assim como o acompanhamento das conferências realizadas pelas Universidade Federal Fluminense e pelo Centro Cultural José Bonifácio, que permitiu um aprofundamento da compreensão acerca das seguintes temáticas: i) Diáspora Negra e Lugares de Memória. ii) Quilombos brasileiros contemporâneos. iii) Jongo, cultura popular e patrimonialização. iv) O mercado de escravos do Valongo. v) As Igrejas dos negros no Rio de Janeiro. vi) Devoção dos pardos no Brasil Colonial; Pombagiras: as representações da marginalia sagrada feminina. vii) A política de reparações. viii) A transformação das formas de identificação racial. ix­) O patrimônio herdado como um local de luta política. x) A ideologia do branqueamento e da “democracia racial” em perspectiva histórica e contemporânea. xi) A política de ensino da história afro-brasileira.

A par destas atividades, foi iniciado, em Minas Gerais, o processo de recolha de informação de suporte à seleção das diversas comunidades quilombolas que irão ser parte do meu projeto de tese. Foram estabelecidos contactos com a Universidade Federal de Minas Gerais, com o Núcleo de Estudos em Populações Quilombolas e Tradicionais (NuQ), com a Associação dos Congadeiros de Minas Gerais (ASCON-MG), com a CEDEFES, com o Instituto Nacional de Colonização e com Reforma Agrária (INCRA). Foram também estabelecidos os primeiros contatos com as Comunidades quilombolas da Serra do Espinhaço (Diamantina e São Gonçalo do rio das Pedras), da Serra do Cipó (Cardeal Mota, Jaboticatuba e Tabuleiro), de Contagem (Os Arturos) e com o Grupo de Congado e Moçambique do Bairro Aparecida da cidade de Belo Horizonte.

 

Relatório de Viagem | Brasil – por Martina Matozzi

novembro-dezembro de 2013

Título da tese: Portugueses de Torna-Viagem. A Representação da Emigração na Literatura Portuguesa.

Orientação: Margarida Calafate Ribeiro (CES-III/UC) (orientadora). Roberto Francavilla (Universidade de Genova) (co-orientador)

Orientação no local: Sílvio Renato Jorge (UFF)

Local: Rio de Janeiro; Niterói; São Paulo — Brasil

Financiamento: Doutoramento Património de Influência Portuguesa / Fundação Calouste Gulbenkian (passagem aérea); subsídio previsto na alínea a) do n.º 5 do Art.º 24º do Regulamento de Bolsas de Investigação FCT, referente à bolsa de investigação SFRH / BD / 78581 / 2011 (estadia) ;

Objetivos

O objectivo principal da viagem de estudo foi realizar um estágio doutoral no Programa de Pós Graduação em Estudos de Literatura (Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas) da Universidade Federal Fluminense (UFF), parceira do programa do doutoramento PIP. O referido estágio foi supervisionado pelo Professor Doutor Sílvio Renato Jorge, especialista nas áreas da literatura portuguesa e da literatura de migração.

A estadia na UFF teve a duração de quatro semanas (de 11/11 a 6/12 de 2013) e destinou-se a cumprir as seguintes tarefas: i) sessões de orientação com o supervisor. ii) Trabalho de pesquisa bibliográfica em: Biblioteca Geral / UFF; acervo bibliográfico do Núcleo de Estudos Portugueses e Africanos / UFF; Biblioteca Geral / Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Real Gabinete Português de Leitura / Rio de Janeiro. iii) Frequência das atividades científicas do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da UFF e ciclos de conferências dos programas de pós-graduação desta Universidade e da UFRJ. iv) Escrita da tese. v) Visitas a lugares de patrimonialização da experiência migratória: Memorial do Imigrante e exposições temporárias desta instituição e Museu da Língua Portuguesa / São Paulo (de 14/11 a 15/11 de 2013).

Impacto no progresso da tese

A viagem de estudo e o estágio doutoral contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento da investigação. Permitiram um importante aprofundamento da matéria em estudo na referida tese, proporcionando a orientação de um especialista, o acesso a uma bibliografia à qual não poderia ter tido acesso sem esta viagem, e a sítios de interesse público, onde a experiência migratória portuguesa é patrimonializada.

 

Relatório de Viagem | Marrocos – por Ana Neno

regime de cotutela estabelecido com a Universidade Cadi Ayyad de Marraquexe 2012-2015

Título da tese: Processos e Políticas de Patrimonialização na cidade de Safim

Orientação: Filipe Themudo Barata (ECS/Universidade de Évora); Ouidad Tebaa (Universidade Cadi Ayyad de Marraquexe) (orientadores). Sandra Xavier (CES-FCTUC); Ahmed Skounti (INSAP, Rabat) (co-orientadores)

Local: Safim — Marrocos

Financiamento: bolseira FCT

Objetivos

As viagens de estudo realizadas no âmbito da tese Processos e Políticas de Patrimonialização na cidade de Safim não podem ser localizadas temporalmente com precisão ou como uma viagem de estudo, pois devem ser consideradas no âmbito do regime de cotutela estabelecido com a Universidade Cadi Ayyad de Marraquexe. Vários períodos de permanência em Marrocos foram garantidos através do financiamento por uma bolsa de doutoramento (BD) atribuída pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (referência SFRH/BD/73389/2010): de 1 de Fevereiro a 31 de Julho de 2012, de 1 de Abril a 31 de Outubro de 2013 e de 1 de Abril a 31 de Outubro de 2014. Outros períodos de permanência em Marrocos, nomeadamente após a cessação da BD, foram garantidos por meios próprios.

Numa primeira fase os objetivos principais foram: i) formalizar o regime de cotutela, que permitiu o estabelecimento de importantes relações com a comunidade académica marroquina, bem como uma melhor perceção das prioridades e condicionantes da investigação científica local a realizar-se. ii) Frequência do curso de árabe dialetal (darija) no Instituto Cervantes de Marraquexe, que foi essencial para facilitar a interação e a integração na comunidade local.

Numa segunda fase, o objetivo foi realizar a investigação nos arquivos, com uma perspetiva etnográfica. Os arquivos e bibliotecas consultados foram: os arquivos da Direção do Património Cultural do Ministério da Cultura em Rabat (DPC); os arquivos da Inspeção Regional de Monumentos Históricos e Sítios de Safim (IRMHSS); os arquivos do Centro de Arquivos Diplomáticos de Nantes (CADN); a biblioteca da Escola Nacional de Arquitetura de Rabat (ENA) e a biblioteca do Instituto Nacional das Ciências da Arqueologia e do Património em Rabat (INSAP).

Numa terceira fase, o objetivo foi desenvolver um período alargado de permanências e contactos em Safim, e com a comunidade local. Aqui o objetivo foi também efetuar recolhas etnográficas junto de algumas famílias locais e através da observação participante, colaborando em atividades ou colaborando com várias associações locais e com a IRMHSS.

Impacto no progresso da tese

Foram estabelecidas importantes relações com a comunidade local e académica. Foram ainda estabelecidos contatos com várias associações não-governamentais de Safim para a defesa do património local e desenvolvimento local e com instituições: o Centro de Estudos e Investigação sobre o Património Luso-Marroquino (CERPLM); o Centro de Estudos e Investigação sobre o Património do Atlas e Sub-Atlas (CERKAS); a DPC; a Delegação Regional do Património Cultural do Dukkala-Abda (DRPCDA); a Delegação Regional do Património Cultural de Marraquexe (DRPCM); a IRMHSS; o Museu Nacional de Cerâmica de Safim e a Agência Urbana de Safim.

O trabalho etnográfico permitiu compreender como dialogam entre si várias esferas da sociedade em Safim, como se posiciona a comunidade local face às políticas nacionais e como se desenvolveram continuidades e ruturas em relação às origens coloniais dos processos de patrimonialização.

 

Relatório de Viagem | Cabo Verde – por Fernando Pires

julho - agosto de 2014

Título da tese: Há Vila Além da Costa. Urbanidades em Cabo Verde, século XIX

Orientação: Luísa Trindade (CES-FLUC) (orientadora). António Correia e Silva (Universidade de Cabo Verde) (co-orientador)

Local: Ilhas de Santiago; Fogo; Brava; São Nicolau; Santo Antão; São Vicente — Cabo Verde

Financiamento: Doutoramento Património de Influência Portuguesa / Instituto de Investigação Interdisciplinar e Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

Objetivos

Esta viagem teve como principal objetivo a recolha de elementos para o projeto de tese de doutoramento. Durante a estadia em Cabo Verde procedeu-se, numa primeira fase, à recolha de dados no Arquivo Histórico Nacional, consultando sobretudo o fundo arquivístico da Secretaria Geral do Governo (1803 - 1927) e muito especialmente a documentação relativa às obras públicas. Na segunda fase, realizaram-se viagens às ilhas de Fogo, Brava. Depois às ilhas de São Nicolau, Santo Antão e São Vicente, finalizando com o interior de Santiago.

Impacto no progresso da tese

As deslocações às diferentes ilhas foram muito importantes não só para estabelecer o contacto direto com o objeto de estudo, assim como para se fazer o levantamento fotográfico das povoações e vilas que se pretende estudar. Foram também significativos os contactas estabelecidos com as câmaras municipais e outras entidades. A recolha documental foi crucial para o avanço da investigação. O acervo do Arquivo Nacional de Cabo Verde revelou-se precioso, tanto na documentação escrita como cartográfica. O contacto com a documentação abriu novas perspetivas e abordagens que foram fundamentais para o desenvolvimento do trabalho.

 

Relatório de Viagem | Angola; França – por António José Sequeira Afonso de Deus

agosto de 2014 (Angola); setembro 2015 (França)

Título da tese: A Cidade nos limites do Império. Missões e Caminhos de Ferro na construção da Cidade nos Planaltos de Angola (1870-1930).

Orientação: Walter Rossa (CES-DARQ/FCTUC) (orientador). Miguel Bandeira Jerónimo (ICS) (co-orientador)

Local: Luanda; Malanje; Ndalatando; Lobito; Huambo; Benguela — Angola; Paris — França

Financiamento: Doutoramento Patrimónios de Influência Portuguesa / Instituto de Investigação Interdisciplinar

As viagens de estudo realizadas no âmbito da tese referida dividem-se em dois grupos:

1) Angola

Objetivos

O objetivo principal da viagem centra-se no reconhecimento das cidades que se formaram a partir das linhas de caminho de ferro. Na linha de Luanda até Malanje (CFL), cidade onde fiquei hospedado por 4 dias; e na linha de Lobito ao Huambo (CFB), com hospedagem em Benguela os restantes dias.

Nas cidades de Malanje e Ndalatando, primeira etapa, reconheço os elementos de composição do espaço urbano que importa relacionar, como a implantação da linha, a Estação, a Missão Católica e a Praça, bem como as principais áreas funcionais. Incluindo a deslocação ao Golungo Alto. A partir da linha de Benguela, faço o reconhecimento das cidades de Benguela e Huambo. Na deslocação ao Lobito, visito a sede do Caminho de Ferro de Benguela, onde se localiza o principal arquivo do CFB.

Impacto no progresso da tese

Esta viagem proporcionou um contato com a realidade das estruturas urbanas, que emergiram no período colonial, em particular por permitir uma comparação entre os processos de formação na relação com o território, a partir da linha, e como, a partir de um centro, da estação evoluiu a cidade.

2) França

Objetivos

O objetivo principal da viagem prende-se com a consulta do arquivo da principal congregação religiosa que se fixou em Angola, com acordo do Estado português, a partir de 1881, com a fundação da Missão da Huíla.

As pesquisas são dirigidas para as missões que foram construídas nas cidades anteriormente referidas, em particular para as “missões centrais”, como a de Malanje da Huíla e, mais tarde do Huambo. A consulta do arquivo proporcionou o contato com a atividade administrativa, na relação entre a congregação e o Estado português onde avulsa imensa documentação inédita, por revelar.

Impacto no progresso da tese

A documentação consultada permitiu consolidar um conhecimento sobre a importância das missões, dos espiritanos em particular, na afirmação territorial do domínio colonial português, na articulação com a religião, com a propagação da fé, revisitando anteriores etapas de colonização doutros territórios, nomeadamente do Brasil. O tema de investigação, centrado na formação da cidade no interior do continente, num momento de afirmação do império colonial português em África, sai reforçado após estas viagens, desejando, tanto quanto possível, consolidar esse conhecimento com novas deslocações.

 

Relatório de viagem | Angola — por Sara Ventura da Cruz

maio de 2014

Título da tese: Visões territoriais do iluminismo português na África Austral

Orientação: Renata Malcher de Araujo (FCHS-UA) (orientadora). Walter Rossa (CES-DARQ/FCTUC) (co-orientador)

Local: Luanda, Barra do Dande, Sumbe, Muxima e Benguela — Angola

Financiamento: Doutoramento Patrimónios de Influência Portuguesa (passagem aérea); bolseira FCT

Objetivos

No mês de maio de 2014 foi realizada uma viagem de estudo a Angola, com o objetivo de conhecer um dos territórios objeto da minha investigação e consultar os seus arquivos e bibliotecas, e procurando tirar partido da presença do co-orientador no país. Os propósitos da pesquisa de tese referida são investigar quais as visões territoriais – imagens, projetos e utopias – que construíram e são construídas pelo projeto iluminista português para o(s) território(s) da África Austral e examinar se, nas ações e reformas propostas, se pode ler um plano concreto de ligação das duas costas. Para tal, é necessário estudar a forma como foi lido e representado o território, como foi feita a apropriação do espaço e como foi pensada e construída a rede urbana e territorial ambicionada. Através desta leitura tenciono perceber as dinâmicas globais e de ligação aos outros espaços imperiais e as dinâmicas locais que impuseram, ou não, flexibilizações, adaptações e alterações às propostas da Coroa, e as razões subjacentes.

Assim, na viagem de estudo, não só foram realizadas visitas em Luanda, para identificação de espaços e edifícios importantes para a pesquisa, como também foram realizadas algumas viagens específicas, designadamente: à foz do Dande, explorando a zona a norte de Luanda; a Muxima, num percurso para conhecer a área ao longo do rio Kwanza; ao Sumbe, ex-Novo Redondo, uma povoação fundada no período em estudo; e a Benguela, uma das mais importantes povoações na estrutura administrativa de Angola no século XVIII, logo depois de Luanda. Ao fazer a deslocação a Benguela em automóvel, foi ainda possível observar as diferenças no território e na paisagem ao longo do percurso. Durante todo o período da estadia em Luanda foram igualmente efetuadas consultas no Arquivo Nacional de Angola, na Biblioteca Nacional de Angola, bem como no Arquivo Municipal de Luanda.

Impacto no progresso da tese

Da pesquisa realizada na viagem de estudo resultou a obtenção de material iconográfico e documental importante para a compreensão da evolução dos espaços urbanos de Angola e a obtenção de bibliografia fundamental para a tese, não disponível em Portugal. Foram ainda encetados contactos com uma investigadora angolana, a Arquiteta Ângela Mingas, coordenadora da Escola de Arquitetura e do Núcleo de Estudos de Artes, Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade Lusíada de Angola.

A viagem permitiu perceber melhor o território em estudo, algo que se revelou muito importante para a análise da cartografia e relatos e descrições de viagens de exploração, que são fontes fundamentais na investigação que estou a levar a cabo, mas também para a obtenção de dados importantes para o desenvolvimento da mesma.

 

Relatório de Viagem | Itália; Moçambique — por Lisandra Franco de Mendonça

regime de cotutela estabelecido com a Universidade La Sapienza de Roma, no Doutoramento de História e Restauro da Arquitetura

2010-2015

Título da tese: Conservação da Arquitetura e do Ambiente Modernos: A Baixa de Maputo

Orientação: Walter Rossa (CES-DARQ/FCTUC); Giovanni Carbonara (Universidade La Sapienza) (orientadores). Júlio Carrilho (UEM) (co-orientador)

Local: Roma — Itália; Maputo — Moçambique

Financiamento: bolseira FCT (referência SFRH/ BD / 73605/2010)

As viagens de estudo realizadas no âmbito da tese referida dividem-se em dois grupos:

1) Roma — Itália

Objetivos

No âmbito da cotutela as viagens a Roma foram, em média, cerca de cinco por ano, durante os três primeiros anos de doutoramento (2010-2013), e três a partir daí, sob a orientação do Professor Giovanni Carbonara. Estas viagens serviram para assistir às reuniões do curso de doutoramento em História e Restauro da Arquitetura e para desenrolar a pesquisa relativa à Teoria e História do Restauro, no Departamento de História, Desenho e Restauro da Arquitetura da Universidade La Sapienza e no ICCROM. Foi nessa altura que consultei também o material produzido no âmbito da Cooperação Italiana no levantamento do património das cidades de Moçambique, durante as décadas de 1980-2000.

Impacto no progresso da tese

No final do primeiro ano, encetei os primeiros contactos em Roma — através de entrevistas a professores da Faculdade de Arquitetura da Universidade La Sapienza, ativos na implantação da Faculdade de Arquitetura e Planeamento Físico da Universidade Eduardo Mondlane — os quais me permitiram programar a primeira viagem a Moçambique e estabelecer contatos nas Faculdades de Arquitetura e Planeamento Físico de Maputo e de Nampula, que se tornaram cruciais para o desenrolar da pesquisa e para incorporar um orientador específico no processo.

2) Maputo — Moçambique

Objetivos

As três viagens a Moçambique decorreram entre os meses de agosto e de novembro de 2012 e 2013, e em Novembro de 2014 (total de seis meses). A primeira viagem foi planeada para percorrer as principais cidades estabelecidas pelos portugueses na costa de Moçambique (do Ibo a Maputo), e para estabelecer contatos em Maputo. A segunda teve como objetivo aprofundar o conhecimento sobre a cidade e consultar os arquivos. Com a terceira viagem pretendeu-se fortalecer esse conhecimento e complementar os materiais de interesse para a pesquisa.

Impacto no progresso da tese

A primeira viagem serviu para perceber que seria impossível desenvolver a investigação que pretendia noutra cidade que não Maputo, dadas as enormes dificuldades de deslocação no território e visto que as viagens foram sempre custeadas por mim, sem a comparticipação da Fundação para a Ciência e Tecnologia. A permanência nos vários sítios só pôde acontecer através de uma rede de contatos que me permitiu pernoitar e ter quem me acompanhasse às estações de transportes regionais com partidas nem sempre diárias e nem sempre com horários acessíveis.

A segunda viagem, já com o objeto de estudo circunscrito a Maputo e com um orientador no local, serviu para aprofundar o meu conhecimento da cidade e dos seus arquivos, tendo recolhido grande parte do material que veio a ser trabalhado na tese nesse período.

A terceira viagem foi essencial, visto que o relato da história recente de Maputo, que interessou o meu trabalho, fez-se sempre a partir da discussão com o meu orientador no local, entrevistando outros observadores participantes e confrontando as rápidas alterações em curso na arquitetura da Baixa da cidade.

 

Relatório de viagem | Moçambique — por Nuno Simão Gonçalves

agosto de 2014

Título da tese: Do caniço ao cimento: A transição urbana de Lourenço Marques para Maputo (1961-1992)

Orientação: Júlio Carrilho (UEM) (orientador). Walter Rossa (CES-DARQ/FCTUC) (co-orientador)

Local: Maputo — Moçambique

Financiamento: Doutoramento Património de Influência Portuguesa / Fundação Calouste Gulbenkian Fundação Calouste Gulbenkian

Objetivos:

O propósito desta viagem resultou de uma prévia pesquisa e análise do estado da arte e arquivos, tanto bibliográficos como cartográficos, existentes em Portugal. Rapidamente foi possível constatar que existiam várias lacunas e imprecisões, em especial no campo temporal que vai de 1974 até 1992, devido ao facto de ter sido uma fase muito conturbada da história do país, em que muito do material de interesse para a presente investigação, ou só foi publicado em Moçambique, ou ainda se encontra inédito e por tratar arquivisticamente. Desta forma, tornou-se imprescindível uma viagem de estudo à cidade de Maputo para poder recolher informações só disponíveis no local.

Na fase da preparação da viagem foram estabelecidos vários contatos com algumas entidades e “atores” locais onde se pretendia visitar os espaços urbanos com os objetivos de: i) visitar locais específicos da cidade, de interesse para a pesquisa, com particular incidência a bairros outrora considerados suburbanos, como a Mafalala, o Chamanculo e o Xipamanine; ii) realizar entrevistas aos que tenham vivido e participado de perto nas mudanças politicas, sociais, culturais e urbanas da cidade de 1974 até 1992. Planejou-se também a investigação em arquivos: i) pesquisa em arquivos bibliográficos e hemerotecas: Arquivo Histórico de Moçambique (AHM); Biblioteca da Universidade Eduardo Mondlane (UEM); depósito de periódicos da Biblioteca Nacional de Moçambique (BNM); entre outros; ii) pesquisa em arquivos de cartografia e imagem: DINAGECA; Conselho Municipal de Maputo (CMM); MICOA; Ministro das Obras Públicas e Habitação (MOPH); Faculdade de Arquitetura e Planeamento Físico da Universidade (FAPF) da Universidade Eduardo Mondlane; Centro Documentação Formação Fotográfica Moçambique (CDFFM); ARPAC.

Impacto no progresso da tese

Apesar das dificuldades encontradas no terreno — a insegurança, a difícil mobilidade na cidade, os entraves burocráticos, as frágeis condições em que se encontram alguns arquivos, a resistência de alguns dos entrevistados perante as questões apresentadas, em parte devido ao facto de ainda tratar-se de um tema recente e polémico — foi possível realizar uma recolha exaustiva de material de grande interesse para a pesquisa de doutoramento: em termos bibliográficos nos arquivos do AHM e da Biblioteca da UEM; e na hemeroteca da BNM; em termos cartográficos, foram muito profícuas as consultas nos arquivos da DINAGECA, CMM, MICOA e MOPH. As entrevistas realizadas foram também de grande importância para a pesquisa, sobretudo às feitas a alguns habitantes do Bairro da Mafalala.

Depois de organizada e analisada, a informação reunida durante a viagem tornou-se imprescindível para a pesquisa e levou a alterações significativas na tese, tendo sido crucial para a resolução de dúvidas que tinham anteriormente surgido.

 

Relatório de Viagem | Índia – por Nuno Grancho

fevereiro 2012 | novembro-dezembro 2012

Título da tese: Diu: Território, Cidade e Arquitetura

Orientação: Paulo Varela Gomes (orientador). Rahul Mehrotra (GSD/Cambridge, Mass., USA ) (co-orientador)

Local: Índia

Financiamento: bolseiro FCT

Foram realizadas duas viagens de estudo:

1) Lugares visitados: Ahmedabad; Bharuch; Gondal; Junaghad; Patan; Veraval; Surrate; Cambaia; Diu — Índia.

Data da visita: fevereiro 2012

Instituições de acolhimento: CEPT University, School of Architecture e CRDC - Centre for Research, Development and Consultancy, Ahmedabad, India.

2) Lugares visitados: Diu; Damão — Índia.

Data da visita: novembro-dezembro 2012

Instituições de acolhimento: CEPT University, School of Architecture e CRDC - Centre for Research, Development and Consultancy, Ahmedabad, India.

Objectivos:

Os principais objetivos das viagens de estudo foram: i) conhecimento da realidade local e regional. ii) Exame de cidades indianas do século XVI. iii) Exame e recolha de informação sobre as cidades de fundação europeia colonial. iv) Discussão com académicos de diferentes culturas científicas sobre alguns assentamentos portugueses na Índia, para o qual foram aplicados os regulamentos urbanos e planos urbanos inspirados na tradição mediterrânica.

Impacto no progresso da tese:

Os principais impactos no progresso da tese foram: i) Análise de cidades indianas do século XVI. ii) Análise da influência da realidade urbana oriental na fundação das cidades coloniais portuguesas. iii) Análise e constatação de influência e hibridismo em arquitecturas e cidades.

Ao traçar a história dos edifícios ou cidades específicas, a história da arquitetura e a história urbana deram contributo para a abordagem interdisciplinar nos domínios da história social, história política, estudos culturais, antropologia cultural, teoria social e geografia histórica.

 

Relatório de Viagem | Índia – por Nuno Lopes

outubro-novembro 2014

Título da tese: O Sistema Defensivo de Goa (1510-1658). Influência e significados na constituição do território contemporâneo

Orientação: Vítor Luís Gaspar Rodrigues (UE) (orientador). Walter Rossa (CES-DARQ/FCTUC) (co-orientador)

Local: Goa — Índia

Financiamento: Doutoramento Património de Influência Portuguesa / Fundação Calouste Gulbenkian (passagem aérea); Fundação Oriente (delegação de Pangim) (estadia).

Objetivos

A viagem teve como objetivo central conhecer e explorar o território goês, nomeadamente o seu sistema defensivo desenvolvido pelos portugueses no primeiro século e meio de ocupação, complementando o trabalho iniciado, essencialmente, entre os arquivos nacionais e troca de conhecimentos com especialistas na área.

A investigação procura examinar as realidades históricas locais ao longo dos tempos, fundamentais na identificação das dinâmicas do território atual, algo que só poderia progredir após reconhecimento in-situ, permitindo a adequada discussão destes patrimónios: território, comunicações, construções militares e sua interseção com a arquitetura e o urbanismo. Para além da análise da produção historiográfica, o principal investimento reside na compreensão da organização político-militar do território goês e o que resta dos elementos que compunham o sistema defensivo aí instalado, permitindo uma leitura em torno da influência e significados na constituição do território contemporâneo. Deste modo, após investigação no Arquivo Histórico de Goa e na Krishnadas Shama Goa State Central Library, procedi à exploração territorial focada na organização das principais estruturas fortificadas, elaborando um extenso conjunto de levantamentos gráficos das mesmas e relacionando este material com as bases teóricas recolhidas.

Impacto no progresso da tese

Este território foi, para mim, uma surpresa. Significativamente mais extenso e complexo do que avaliei previamente, sofre grandes transformações ao longo dos anos. Estas características, associadas ao elevado grau de deterioração de grande parte das estruturas (essencialmente do interior) e algumas reabilitações que alteraram a traça original (essencialmente a litoral), vieram a dificultar o trabalho de campo. Para a realização dos levantamentos gráficos contei com o apoio de dispositivos de localização (gps), medição (fitas e aparelhos laser), fotográficos e de arquivo de informação (computadores, discos externos, etc.).

A oportunidade desta viagem e a exaustiva prestação no terreno, permitiram um fundamental progresso na dissertação, obtendo matéria substancial e decisiva para a posterior articulação com a cartografia reconhecida e analisada, garantindo bases que permitem demonstrar como as novas tecnologias ligadas ao desenho e à geografia se poderão tornar relevantes no melhor (re)conhecimento da realidade colonial deste território. Estas ferramentas possibilitam redesenhar e reinterpretar os processos evolutivos aqui ocorridos, sobrepondo e compreendendo as várias representações territoriais.

 

Relatório de Viagem | Índia – por Victor Mestre

janeiro-fevereiro de 2015

Título da tese: Arquitectura Vernacular de Goa

Orientação: Manuel Magalhães (orientador). Walter Rossa (CES-DARQ/FCTUC) (co-orientador)

Local: Goa — Índia

Financiamento: bolseiro FCT

Objetivos

No decurso do desenvolvimento da tese subordinada ao tema Arquitectura Vernacular de Goa foi planeada e concretizada uma viagem a Goa entre janeiro e fevereiro de 2015. Os principais objetivos enquadravam-se no âmbito da pesquisa documental na biblioteca de Pangim, com o auxílio de um prévio guião, indicando os espécimes a consultar, nomeadamente os jornais O Heraldo, A Vida, Diário do Norte e o Boletim Agrícola. Complementarmente confirmou-se a possibilidade de consultar algumas bibliotecas privadas de técnicos que trabalharam para a administração portuguesa até 1961.

A consulta documental consistiu em recolher informação relacionada com a vida rural no sentido de se percecionar a introdução de novas tecnologias, novas culturas e equipamentos que se relacionem com o processo de infraestruturação dos campos e das aldeias. Procurou-se também avaliar a sua direta e/ou indireta repercussão nas comunidades e na eventual transformação da organização do espaço físico das aldeias e na arquitetura vernacular.

Foram percorridos longos quilómetros a pé e de automóvel pelos campos, com especial incidência na observação das infraestruturas transformadoras do espaço produtivo, principalmente nos arrozais em regime de serôdio e de várzeas de vangana, como também associados aos arrozais as plantações de coqueiros e, noutros contextos, a palmeira de areca os cajueiros e as árvores de madeira utilizadas na construção de casas, móveis e alfaias.

A abordagem ao território de Goa, incidiu assim nas zonas húmidas de várzea associada aos seus sistemas complexos de represas, lagoas e canais, às áreas de meia encosta, denominadas moroas, e de montanha de densa florestação. Neste itinerário foi ainda objetivo localizar e registar as colónias agrícolas dos finais do século XIX e do primeiro quartel do século XX. Esta tarefa revelou-se difícil mas foi superada com a ajuda da recolha documental, testemunhos vivos, com registo gravado de técnicos relacionados com agrimensura e agronomia, e uma persistente procura no terreno.

A cartografia do século XIX e XX, com o registo dos trabalhos de topografia, agrimensura e hidrologia, entre outras áreas, previamente recolhidos nos arquivos de Portugal, foi relevante para o trabalho de campo, mesmo em situações de transformação do território, sobretudo por via do impacto da exploração mineira nas atividades rurais, e nas próprias povoações.

Impacto no progresso da tese

Com esta viagem ficou concluída a pesquisa no terreno, tendo resultado um acréscimo do acervo de material empírico / casos de estudo que, em alguns casos, constituem praticamente, e após um específico tratamento gráfico, partes relevantes da tese, enquanto que outros serão re-enquadrados numa vertente teórica globalizadora. O processo de análise comparativa irá permitir aprofundar novas pistas resultantes desta viagem de modo a consolidar a investigação e extrair as inerentes conclusões que se espera que venham a contribuir para o conhecimento científico sobre a Arquitectura Vernacular de Goa.

 

Relatório de Viagem |Macau; Malásia; Índia – por Vera Domingues

fim de Outubro-início de Novembro de 2012 Macau e Malaca (Malásia) | Fevereiro de 2013 Índia

Título da tese: Morfologia das cidades de influência portuguesa no Oriente: 1503-1663

Orientação: Walter Rossa (CES-DARQ/FCTUC)

Local: Macau; Malaca —Malásia. Mumbai, Baçaim, Damão, Sirgão, Danu, Mahim e Kelve, Diu, Nova Deli, Cochim (Kerala), São Tomé de Meliapor (Chennai, Tamil-Nadu), Pangim (Goa), Concelhos de Bardez, Tiswadi, Mormugão, Salcete, Perném, Bicholim, Satari, Pondá, Sanguém, Quepem, Canacona) (Goa) — Índia

Financiamento: bolseira FCT

Objetivos

As duas viagens de trabalho de campo tiveram como objetivo principal ter um primeiro contato direto com alguns dos territórios e espaços urbanos selecionados para integrar os casos de estudo da investigação.

A viagem com destino a Macau e Malaca (de 26/10 a 7/11, 2012) integrou-se no âmbito da participação no Colóquio Internacional Relações de Portugal com a Ásia do Sueste: 500 anos de história, decorrido em Macau (30-31/10 e 1/11). Foi uma experiência de campo pautada pela visita e registo fotográfico das estruturas (urbanas e arquitectónicas) presentes nas áreas urbanas correspondentes às anteriores zonas de implantação da ocupação portuguesa. Incluiu também a visita ao Bairro Português de Malaca, onde se encontra a comunidade descendente da presença portuguesa dos séculos XVI e XVII, e as organizações locais não-governamentais que têm contribuído para a manutenção da comunidade e dos seus usos e costumes.

A segunda viagem, à Índia (de 31/01 a 25/02 de 2013), aproveitou a participação no XIV International Seminar on Indo-Portuguese History decorrido em Nova Deli (11-13/2/2013). Foi uma viagem de trabalho de campo que percorreu um território mais vasto. Juntaram-se ao percurso definido pelas visitas aos núcleos urbanos, dois itinerários que permitiram percorrer de carro os territórios correspondentes àqueles das antigas Província do Norte, Velhas e Novas Conquistas, contando num primeiro momento com o acompanhamento do orientador científico. A finalidade manteve-se a mesma: a visita e o registo fotográfico das estruturas ainda existentes de influência portuguesa (urbanas e arquitectónicas – na sua maioria militares e religiosas) e a análise das especificidades dos territórios.

Impacto no progresso da tese

As viagens de trabalho de campo foram dois momentos indispensáveis para o bom desenvolvimento do projeto em curso. O levantamento e interpretação das estruturas contextualizadas nos núcleos territorial e urbano atuais, em contato com as dinâmicas próprias dos lugares, tornaram inequívocos alguns dos problemas que o estudo foi levantando, e abriram espaço para outras problemáticas.

Destas viagens resultou também um elenco de dados relevante reunido nas visitas a exposições, institutos, bibliotecas e museus locais. Juntou-se a este outros dados, obtidos in loco e decorrentes da apreciação topográfica e do estudo dos detalhes e variações dos tecidos urbanos. De carácter mais operativo, foram essenciais para a composição de modelos cartográficos de interpretação, que são um dos objetivos do projeto de investigação em curso.

Por último, e não menos importante, foi a contribuição que a interação humana possibilitou, num registo mais informal, para a compreensão da (im)permanência da influência portuguesa nestes locais alicerçada nas estruturas existentes. Em alguns lugares mais que outros, é certo, são ainda marcos de um carácter identitário.


Relatório de Viagem | Timor-Leste – por Isabel Boavida

agosto-dezembro de 2014

Título da tese: A construção de Timor colonial: Marcas políticas e administrativas na arquitetura, urbanismo e ordenamento do território (1894-1975)

Orientação: Manuel Lobato (FLUL) (orientador). Walter Rossa (CES-DARQ/FCTUC) (co-orientador)

Local: Timor-Leste

Financiamento: Doutoramento Patrimónios de Influência Portuguesa (passagem aérea); Fundação Oriente (estadia).

Objetivos

Durante a permanência em Timor-Leste visitaram-se antigas sedes coloniais portuguesas em todos os atuais distritos (exceto Oecussi-Ambeno), incluindo a maioria das atuais capitais distritais — Díli, Aileu, Ainaro, Baucau, Maliana, Suai, Lospalos, Manatuto, Same, Viqueque (tendo faltado Pante Macassar (distrito de Oecussi-Ambeno), Liquiçá (distrito de Liquiçá) e Gleno (distrito de Ermera)) — e algumas capitais de subdistrito (p. ex. Ermera que chegou a ser capital do concelho homónimo durante o período colonial).

No Arquivo Nacional de Timor-Leste, procedeu-se à consulta de documentação inédita da administração portuguesa. Entre 1 de setembro e 30 de novembro, prestou-se à Secretaria de Estado da Arte e Cultura um serviço de levantamento – identificação e registo da utilização atual e estado de conservação – do edificado do período colonial português no distrito de Díli para constar na base de dados da instituição e para compor a publicação Património Arquitectónico de Origem Portuguesa de Díli, lançada em outubro de 2015, que combina os dados recolhidos durante o levantamento com informações históricas sobre as construções.

Impacto no progresso da tese

Da viagem de estudo resultou um conjunto de material fotográfico, desenhado, escrito e gravado, fundamental para a elaboração da tese. O contacto real e as memórias pessoais do território, antes só indiretamente conhecido, têm contribuído para o desenvolvimento de uma opinião sobre o próprio e sobre as suas especialidades e tornaram mais intuitiva a interpretação de descrições de terceiros.

A constatação da forma como os antigos espaços da administração colonial são usados ou negligenciados pelos atuais residentes, é inspiradora de conclusões sobre o papel do património português em Timor-Leste.


Relatório de Viagem | Japão – por Inês Carvalho Matos

de meados de agosto a inícios de novembro de 2012

Título da tese: Representações da Presença Portuguesa no Japão: Objetos Artísticos, Cultura Visual e Performance .

Orientação: Alexandra Curvelo (FCSC/UNL). António Sousa Ribeiro (CES-FLUC)

Orientação no local: Ikunori Sumida (Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto/DELB)

Local: Ilhas Kyushu, Shikoku e Honshu — Japão

Financiamento: bolseira FCT

Objetivos

Os principais objetivos da viagem de estudo foram: i) fazer o reconhecimento dos locais onde a presença portuguesa no Japão legou património material e imaterial, sobretudo na ilha de Kyushu, fazendo o levantamento fotográfico e realizando entrevistas e visitas. ii) Analisar a cultura visual associada à presença portuguesa no Japão, nomeadamente aquela que deriva diretamente da Arte Nanban. iii) Recolher exemplos de festivais e outros eventos nos quais se trate o tema da presença portuguesa no Japão ou impacto da mesma para a história e a cultura do Japão. iv) Compreender as dinâmicas das relações diplomáticas formais e informais entre os dois países, tanto através das suas instituições, como dos seus cidadãos, e compreender de que modo estas configuram a produção de discursos sobre a história e a memória histórica. v) Conhecer as circunstâncias nas quais o património de cristianismo é reconhecido, apresentado e manipulado pelos diversos agentes locais e nacionais no Japão.

Impacto no progresso da tese

O material recolhido ultrapassou largamente as previsões iniciais. O campo de estudo sobre os cristãos ocultos do Japão e o papel da história do cristianismo no desenvolvimento regional alargou-se substancialmente e verificou-se que a referência à Arte Nanban não é necessariamente reconhecida, embora a sua iconografia específica seja predominante.

Os festivais e outros eventos que, de algum modo, apresentam representações das personagens históricas de outras épocas tornaram-se um tema de estudo mais complexo. Os campos da Antropologia e da Etnografia foram empolados em relação ao estudo da História da Arte e da História. Verificou-se ainda a predominância de património imaterial em relação ao material nomeadamente ao nível da gastronomia, língua, rituais e tradições.

Desta viagem de estudo e material recolhido resultaram ainda a publicação de livros (entre os quais Património de Cristianismo no Japão. Lisboa: Edições Vieira da Silva, 2015), bem como a participação em várias conferências (entre as quais: apresentação da comunicação “Why do you expect a «namban-jin» in the wrapping paper of your «kasutera»?” a 26-31/8/2014 no Congresso da Associação Europeia de Estudos Japoneses (EAJS) — Universidade de Liubliana; e “Teppo Denrai: o legado das armas de fogo” a 3/10/2013: conferência apresentada no Comando da Brigada de Intervenção de Coimbra, numa iniciativa de divulgação científica junto da população em geral).